*atribula-me

não só durante os dias,

esses são passados melhor, de cicatrizes ao vento,

à noite
a noite...
desfaz-me!
pelas tuas chagas mentirosas
do véu de mentira que te negas
cobrem-me do sangue teu

e meu

e a pele, a pele!
volta a arder,
os lábios incham de novo
a mágoa preenche todos os
vazios que prometeria
serem só teus

a solidão escolhida,
- porque não existe outra opção! -
acolhe ainda beleza outra
desfazendo a simetria do teu sorriso
em espelhos mil no horizonte
nunca realmente iguais!

perfeito cristal
rasgado por tinta
perfeito pedestal

é só um sorriso, de lábios matreiros e fugidios
- repito, repito, repito, grito -
ainda assim!,
é maior a força que me retorna
à noite
aos sonhos
e a ti

não sendo nunca capaz
de querer mais do que um ódio
que elucida a distância
e resolve o final contido

à noite...
à noite
a pele repousa
(e os dedos também)
porém o sangue,
ditador superior dos sonhos
e desejos escondidos
pulsa mais vivo
mais quente
mais encarnado
que qualquer outra paixão consciente

como mais quente já foi
ao saber, por toda a certeza da promessa não dita,
que a simetria do belo encontrado,
por acaso mas com um propósito
iria encontrar-me,

ciclos redundantes
de pés apontados
em direcções semelhantes
porque o corpo fala
- expurga -
um desejo impuro vindo do mais nobre dos sentimentos
é necessária condição
para acalmar os dias,
e quiçá

apaziguar as noites
sem mais olhares
mais incertezas
 - é só ao toque que a verdade se desenrola -

desconheces, é um facto
a mistura destrutiva que em mim depositaste
o lençol invisível
cega-me à beleza
ao desejo
a tudo quanto seja humano do querer,
apalpo agora o caminho,

- eu quero encontrar! Juro de lábios encostados aos dedos,
preciso mesmo de encontrar
uma beleza superior, uma névoa negra que te evada dos meus sonhos
uma simetria ideal

e busco, procuro, pergunto, desfaço e volto a fazer;

percebes?
não sabe a doce quando já provámos açúcar

que a noite não volte
contigo
ou sem ti
que os dias terminem
de véu queimado,
verdade exposta e olhares cruzados

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