corpo(s) estranho(s)
os poros arranjam-se em configurações diferentes
agarro o braço direito com as unhas fincadas da mão esquerda e o corpo esquece-se de sentir.
o mês anterior é sempre o de agora,
não é demência mas assemelha-se o suficiente, preciso fugir – ou parar de pensar sendo que a primeira seria mais fácil na praxis…
a única inevitável prisão é a do corpo, uma solitária de paredes estofadas onde nos permitimos perder – aliás, a única verdadeira solitária. Afeiçoo-me aos traços do tecido, à posição dos itens que constituem o meu espaço… e da próxima vez que abrir os olhos depois de morrer por umas horas um furacão passou na minha solitária e tudo está configurado de forma estranha, diferente…
é só a minha pele a provocar a neurose, prefiro o toque dos lençóis acabados de lavar.
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se mergulho em imagens todos os meus pedaços esquecidos sobem à consciência; a passagem para as letras – que não deixam de ser imagem também mas permito-me à negação – com o som do teclado é menos assustador do que a tela vazia…
telas vazias na parede
telas vazias na mesa
telas vazias nas gavetas
telas vazias em mim