4(get)

a mudança é uma garantia

(não tão final como a outra única certeza)
jamais o neguei, mas dou-me conta da resistência que tem vindo a pautar a merda dos dias quase todos...
na certeza da mudança, de carácter inconsciente e ritmo compassado - evolutiva -, não se conclui que a reviravolta brutal num par de meses será aceite da mesma forma... certo? Digam-me que sim, por favor.
a intolerância está no topo da minha lista - nunca imaginei tornar-me tão céptica e rude quanto agora dou comigo a ser. É como comparar a aguarela aguada em linhas ou até manchas livres e de olhos fechados com a rigidez da mina mecânica seguindo a régua.
é (quase) demasiado brutal, este conjunto de lentes que não discerne tanto a humanidade quanto o do que cada um é capaz.
dou por mim de bochechas vermelhas, lábios apertados, maxilares doridos e olhos semi-cerrados. É a manifestação física da intolerância banal, da incapacidade de flexibilizar a minha pessoa em redor da estranheza alheia (e não só - cria-se um ciclo destrutivo ao não aceitar tamanha imbecilidade no Eu).
foco agora, imóvel, as palavras. Palavras e imagens são a almofada de cheiro a lavanda (ou alfazema? São os dois lilás...) que acalma... perdão, distrai esta (in)capacidade de me entranhar nos mais ligeiros sons, conversas ou situações que me façam pensar mais do que uma vez e meia.
e refiro apenas o topo da lista...
se (re)conheço mudanças, não vejo forma de não ser completamente assolada e atropelada pela violência que se abate em mim por estas.
e depois? Choro. Já não me assiste a livre e espontânea participação em nada que não vá, eventualmente (e sem que conte com isso), criar o cenário mais negro possível a partir da mais colorida tela - involuntariamente.
perda de controlo? Seria eu agarrada a ele? Talvez no inconsciente - nunca me senti a perder o controlo, logo, natural é não ter necessidade de sentir que o tenho. Era uma relação próxima e segura, aquela entre Mim e a(s) certeza(s). Nunca dei conta delas, de tão próximas.
da falta de capacidade de controlar circunstâncias advém toda uma nuvem de sentimentos, atitudes e pensamentos automáticos que me tiram do sério e aí percebo - "a mudança é normal. Não é saudável o facto de acontecer a um ritmo alucinante"
vou precisar de muito tempo para me perceber. Não só abraçar as tais intolerâncias (que por vezes me fazem rir por dentro e pensar "Começo a perceber perfeitamente os meus Avós...") como também saber confrontar a vergonha com que olho para mim, tão diferente... irreconhecível.
não se saberá dizer se todas as nuvens, tensão e rebolar de olhos algum dia será aceitável (não faz parte do Eu que conheço) mas acredito (... tenho de acreditar) que alguma distância - de tudo e todos - juntamente com muito descanso e uma pitada de paz vai amenizar a situação.
porque timidez é um traço escandalosamente estranho a tudo o que verdadeiramente sinto - mas é um dos sintomas secundários à intolerância.
... intolerância essa, devo referir, que está intimamente ligada a uma frustração fogosa de tamanhas proporções que cria uma constante rigidez... não seria meu (ou seria?) mentir e ocultar o que sei ser verdade. 
qual será a minha verdade? Posso eu adequar-me a quem sou, agora, ou assim que me sinta confortável com as guinadas sem destino aparente volto a querer ficar confusa?
um dia, talvez, possa querer sentir calor. Um dia, com toda a certeza, vou deixar a intolerância de lado porque darei primor à beleza.
um dia talvez faça as pazes. 
ou não.
(verdade é que esta não-determinação ou falta de controlo fazem qualquer um sentir-se como numa montanha russa. Parece divertido mas ter o coração na garganta a todos os momentos não é propriamente uma ideia sedutora)
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