ansiosa

Eu não devia estar ansiosa. Eu não devia estar ansiosa. Aliás não me sinto ansiosa. Nada ansiosa. Nem um pouquinho ansiosa. Mas não me apetece ir.
Não me apetece NADA ir. Já sei como é. Por mais que me digam que eu posso fazer por alterar o que sinto, há coisas acerca das quais sou completamente impotente.
Já sei que vou sentir aquele peso em cima. Já sei que vou sentir o vazio. Já sei que vou sentir o silêncio.
Já sei que em vez de acordar como uma pessoa "normal" o meu sono vai estender-se por loooooongas horas de pesadelos e suores frios.
Já sei porque já aprendi. E já lutei e já perdi.

Já sei da mesma forma que uma criança sabe que se mexer em agulhas vai doer.
É a mesma coisa.
Eu já sei porque o sítio para onde vou magoa.
Eu já sei que magoa.

E não sei lidar com isso.

A maioria das vezes o meu cérebro para e eu fico simplesmente a esperar que as horas passem. Porque é difícil sentir-me normal num meio que agora é tão diferente.

Adoro ir por causa da minha Mãe. Mas, por mim, era lá que eu ficava. Ao lado dela. Porque ao lado dela não sinto o peso, a tensão, o espaço que não é acolhedor embora seja familiar.

E depois, culpa em cima. Porque sinto eu isso? É assim tão mau? Só tenho uma resposta: Sim. E ninguém, alguém nunca poderá estar no meu lugar a sentir o que eu sinto. Por isso não vale a pena tentar explicar.

Só sei que já sinto enjoos e que vou desejar que o tempo passe rápido, muito muito rapidamente, em todos os momentos que não esteja perto da minha Mãe.

E pronto. Ok. Admito. Estou ansiosa. Vou desenhar , escrever e fazer tudo o possível para me distrair, sabendo que vou andar a criar desculpas a todos os momentos para poder telefonar e dizer "Não posso ir".

Porque é humano e até primal proteger-mo-nos do que nos magoa.

Quando o que magoa não devia magoar - devia ser natural, hábito, familiar - é aí que a coisa se complica.

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