gosto de ti

A Mariana de 5 anos tinha a certeza de que ia trabalhar na Nasa (mais concretamente, ia flutuar no espaço e marcar os pés na Lua).

A Mariana adorava tudo o que tinha a ver com estrelas e o espaço.
Aos 5 anos, fez birras sem conta para ter todos os livros da colecção "do espaço" - as capas eram sempre metálicas, pareciam prata (ainda os tem guardados).
A Mariana com 5 anos disse à Mãe que se predispunha para resolver o problema dos buracos negros (ela apenas sabia que ninguém sabia o que havia lá) - ia sozinha numa nave e atirava-se lá para dentro. Depois comunicava o que via. Se não visse nada era "porque os buracos negros matam".
A Mariana pedia para lhe lerem algumas palavras mais difíceis mas o importante eram as imagens de nebulosas enormes com a Terra ao lado para comparação de tamanho.
E à noite, fechava os olhos para tentar imaginar o infinito. Porque era isso que nunca percebia - e pensava que um dia iria vir a compreender (mentira).
E por ser algo muito grande, longo, infinito! habituou-se a dizer às pessoas em sinal de carinho "Gosto de ti até ao infinito!" e abria os braços para fora. Porque acreditava que ninguém mais poderia gostar assim tanto de outra pessoa, o gostar da Mariana era diferente e especial.
Para isso, imaginava-se a voar pelo espaço e a voar sem parar entre estrelas e planetas. E para ser infinito, não podia parar. Mas ela encontrava sempre um final. Nunca era infinito. Porque passadas umas horas lá adormecia de cansaço - e era, realmente, a única forma de passar as horas até dormir.
Gostava tanto de conhecer a Mariana de 5 anos....
Não ia estragar-lhe a surpresa mas ia tentar prepará-la. 
Porque o pior vazio não é o do espaço ou dos buracos negros - é o da vida.

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