0-20-40-60-80-?

acredito que o ser humano baseia 99% do que faz, pensa, cria e, ultimamente, é, na tentativa vã de contrariar a morte.

e é tão ridículo quanto natural remar assim contra a maré - sem barco nem braços.

tornar complexos assuntos simples e vice-versa.
fazer do vulgar tema supremo; o essencial do que faz de nós 'o que somos' visto em redução dupla, ridicularizada, gasta,...

poderei ser demasiado sensível (existirá termo apropriado?) para o que representa toda esta actuação em meu redor, estes papéis mal concebidos, consequentemente pessimamente assumidos.
todos dançam em redor do fogo, abraçam as chamas - os extintores ali ao lado, em número assumidamente superior a qualquer dimensão que esse fogo possa assumir.

avassaladora é a velocidade que brotam palavras tentadas em criar em mim uma submissão a outros papéis, outros pensamentos, semelhantes a um outro eu habitando um universo paralelo. É porventura fácil atribuir funções e direcções a quem se nota perdido; apenas reparo que os mapas são passados em papel vegetal e os caminhos se perpetuam num infinito da mesma palavra amiga que tenta apaziguar o desassossego.

eu preciso do desassossego, eu necessito, vitalmente, do vibrante inconsequente - faz-me viver!

choro, lágrimas e ranho, pontapés e murros - e rio, amo, e delicio-me com o mais simples e puro, serei sempre criança.

viverei sempre (poderá ser altura de assumir que não haverá grande alteração daqui para o futuro) neste decadente mas excitante "feet on the cliff" ao invés de um estável "foot on the ground" ou até experienciando "one foot in front of the other" (embora este seja uma prática consciente que ganho dia após dia e não anule a minha forma tão dura e bruta de sentir).

prefiro chorar a não sentir nada. Prefiro ter pesadelos a dormir pouco. Prefiro uma dose pequena de vertigens do que ver um chão em repetição por quilómetros...

a-ha! Mas aqui chegamos! Algo difícil de entender por quem ve observa por fora... Ora, sentindo eu cada vibração como uma onda, "não é melhor uma linha recta"? Assim, um percurso menos enevoado, um horizonte limpo, uns amores menos apaixonados?

tenho plena noção e sentido de "fascínio". Assola-me mais do que assumiria cara-a-cara a qualquer pessoa e assusta-me, mas assumo. Mais - tenho memória fotográfica do momento em que a minha mente faz "click", o coração derrete, a barriga cresce borboletas e de repente, rendo-me.

desde sempre. Há certos hábitos ou manias que podem não me seguir toda a vida mas que, de forma insistente, vão aparecendo. Como me foi dito há pouco (e me fez pensar no assunto) - "Tu gostas da mesma música desde que te conheço. Dos mesmos artistas. Das mesmas cores. É estranho! É incrível e estranho!". Não sei se tenho opinião desta mesma. Gosto do que gosto.

e é esse o problema...

"click"

a maioria dos meus hobbies e paixões... porra, tudo aquilo que gosto teve um click memorável. Assim uma frame apaixonante que me tirou de uma realidade e me atirou para um patamar novo do que é gostar.

but I digress...

as pessoas têm de começar a perder um pouco do medo das emoções, do sentir a sério a sério e assumir que cada um de nós é único, irrepetível e mortal. Pura e simplesmente, odiemos ou amemos essa pessoa, é única. Ponto. Final. Parágrafo.

não faz qualquer sentido e fico encarnada de fúria quando me passam pelos ouvidos ou olhos coisas como "there's plenty of fish in the sea" - a ideia de que alguém, seja quem for, é substituível, ou pior - como se fosse missão TER DE SUBSTITUIR UMA PESSOA POR OUTRA.

tremo de raiva e incompreensão pois no meu namoro eterno pelos caminhos menos percorridos, certeza tenho de que o tempo será sempre demasiado curto e ninguém é igual a ninguém.

e se de uma forma consistente o ser humano se agarra com força à repetição, força o mesmo estigma padronizado às pessoas em si, como se fossem livros, letras, cores ou números. "novos amigos, novos namorados, novas pessoas", como se de uma forma mágica de perlimpimpim pudessem vestir quem já foi outrora, quem já significou, quem já marcou, marca e vai sempre marcar. SÃO DIFERENTES, SÃO OUTRAS.

"there's plenty of fish in the sea". Cada peixe é um peixe único, nem que tenha consigo um milhar de gémeos semelhantes únicos nas suas características genéticas particulares.

eu não entendo, das profundezas da minha incredulidade porventura infantil, de onde vem esta facilidade (ou será que me mentem?) de substituir pessoas. Eu entendo, eu percebo, eu sei, é necessário, faz-se, mas a que ritmo, de que forma? Não assim! Bocas aqui, bocas logo ali, os corpos são lindos, prometem-se a ritmos alucinantes. Promessas não são nada!

não haja confusão - paixão é paixão, amor é amor, suor com suor é suor com suor, os três misturados é melhor, há uma multitude de diversas formas de gostar, todas elas plenas, mas onde tem lugar o insubstituível nos dias do descartável?

do lugar que nunca será novamente ocupado? Poderemos algum dia reservar um lugar especial a alguém muito em particular na esperança de não encontrar igual pois... é impossível? E indesejável?

haverá lugar para assumir, por fim, que na irrepetível experiência humana há sim lugar para muitos peixes, todos eles diferentes, e que nenhum tem de superar outro?

já tive peixes incríveis na minha vida. De peixinhos dourados a tubarões maravilhosos de fazer tremer, e nunca, jamais, deitei nenhum fora. Estão no fundo, arrastados no mínimo pela força da corrente (pulsar do sangue) no máximo pela força da memória - mas de facto aqui se preservam, no aquário-coração, onde convivem nas suas diferenças e semelhanças,

não me obriguem a deitar fora os meus peixinhos! Eu prefiro SABER (não acreditar) que somos todos irrepreensivelmente únicos, até meter nojo.

dói? *****-se, dói. Mas sabe bem? Oh, o melhor prazer que poderás algum dia sentir!

não me venhas dizer em dia algum, para te esquecer. Eu fascino-me. Não é fácil fascinar-me. Rara ocorrência, incontrolável no que diz respeito à minha vontade.

e nunca tal acontece por razão nenhuma, há sempre um código semi-coerente, sempre inconsciente que mo permite. Há sempre uma barreira que sei ser suficientemente folgada para que o fascínio não me quebre.

há muitos peixes? Há. E daí? Também há coisas horríveis como nêsperas ou cortes de folhas de papel.

por favor, façam de tudo caros colegas seres humanos, na tentativa de amenizar as dores do amor e desamor, menos tentar convencer tudo e todos de que

a nossa essência é substituível, negociável...

é abominável a ideia de que os meus peixinhos algum dia possam deixar de o ser.

porque isso já seria um fenómeno paranormal e isso já é demais mesmo para quem se fascina demais...

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*mil